
“Teresina, / a minha, / essa não há mais” – Climério Ferreira
Recebi o correio de um irmão com o livro de fotografias de Assai Campelo (Teresina, de primeiro, Edição do Autor e Grupo Harém de Teatro, Pi, 2021). Muitas das fotografias eu já conhecia, amigo que sou do fotógrafo e tive o privilégio de receber algumas cópias de suas fotos em algumas vezes que na terra estive. Mas é inenarrável o prazer de vê-las agrupadas e encadernadas no lindo livro com uma capa sensacional, onde o velho vai e o novo vem (foto acima), realçando – no linguajar só do nosso falar, para dizer que Teresina, de primeiro (o que significa antigamente, naqueles tempos) era assim.
A foto da capa, que eu já achava absurdamente genial, ganha no livro o significado de guardar um conteúdo que não existe. A velha cidade já desapareceu, o novo que cresceu e apagou a memória que o livro contém. E é a velha que vai embora que Assaí colocou nas páginas do livro.[1]
E aí você vai se colocando também nas fotos, ao lado de figuras que constituíram a Teresina de primeiro; nos movimentos e logradouros da cidade só percorridos pelos amantes, também de primeiro, da cidade verde; e na plateia para assistir os espetáculos no movimento paralisado e imortalizado por Assaí Campelo. A sensibilidade de registrar quatro migrantes atravessando a rua 13 de Maio num Albey Road caboclo com malas apressadas é sensacional.[2]
Assaí ganhou sua câmera Asahi Pentax (coincidentemente ela já vinha com seu nome gravado, brincávamos com isso) quando eu já estou saindo de Teresina para o Rio de Janeiro. Mas, de primeiro, eu ia todo ano à terra num Golzinho marrom, depois numa Paraty azul e passávamos um mês quase inteiro juntos. De modo que acompanhei sempre o retrateiro da terra.
Estão lá a Maria Tijubina, o Baiano, o Tarciso Prado, o Arnaldo Albuquerque, o Nonatim, só pra falar de alguns que já se foram. O Troca-troca, a Prainha, a São Benedito, o Beco do Prazer, o cais do Parnaíba, o Volei Bar na Coroa do rio, a P2, o Mercado, pelos lugares que nós andávamos já numa cidade que se desmanchava.
E quando cidade se mudou para o outro lado do rio Poty, quase nada restou. O que conhecíamos como a Teresina, de primeiro, se transformou em cidade fantasma, abandonada por seus alicerces humanos que se foram. Choro os seus mortos e a cidade deserta agonizante, que só existe na lembrança dos que a conheceram, de primeiro.
O testemunho de uma geração que se despede. Mas um livro necessário para que fiquemos na memória de uma cidade que quer esquecer como era, de primeiro. E que só tem o depois, depois de nós. E Assaí Campelo nos mantém vivos e na Teresina que vivemos.
[1] Organização de Aci Campelo e Paulo Moura.
[2] A foto (ela perde quando se fotografa o livro, pois ocupa duas páginas)

Que maravilha !
Genial esse termo , ” de primeira ” . Há muito tempo não ouço.
CurtirCurtir
De primeiro me lembra minha vozinha cearense/amazonense… correr à la coxila …
CurtirCurtir
Tivemos a honra de fazer um dos llançamentos deste livro na Oficina da Palavra no começo do mês juntamente com o livro SANTO SERTÃO do fotógrafo Sérgio Carvalho. Foi uma noite maravilhosa como as q tinham “de primeiro” em Teresina!!!
CurtirCurtir