Amanhã vamos votar. Certamente a mais importante eleição que participaremos desde a redemocratização. Na primeira não acertamos com o Collor, tiramo-lo e apostamos nossas fichas novamente, a democracia permite o arrependimento. Primeiro deu uma pseudosocialdemocracia que se revelou neoliberal atendendo o consenso de Washington. Sofremos um arrocho inesquecível. Depois a esperança foi despertada por um governo que se nomeava popular que ficou treze anos no poder até um desgaste completo. O vinho, muito bom no começo, avinagrou no final. Apressadamente foi dado um golpe que feriu a jovem democracia. O golpismo parlamentar-judiciário e midiático não impediu que as eleições regulares acontecessem. Afinal precisavam fingir que as instituições funcionavam normalmente num golpe branco.
Desde o começo, essas eleições de 2018 não se apresentavam como regulares. O plano dos golpistas era que ela referendasse o golpe. Não conseguimos uma união das esquerdas no primeiro turno e a direita desapareceu para um protagonismo inesperado de uma extrema direita liderada por um capitão medíocre. O resultado é que vamos para um segundo turno não para escolher um candidato que nos governará por quatro anos. O que está em jogo nessa disputa é se queremos voltar a uma democracia plena, que tínhamos antes do golpe, ou se abriremos as portas para um regime autoritário que pode nos trazer um neofascismo neoliberal pós-moderno, que pode nos roubar a democracia.
É essa decisão que as urnas vão revelar amanhã. E nesse período pré-eleitoral já começamos a assistir uma amostra de decisões que atendem já, de antemão, o projeto autoritário. Numa faculdade de direito, onde se discutia o fascismo, o TSE – órgão que regula as eleições – mandou tirar uma bandeira do movimento antifascista internacional que adornava o local do evento, como se fosse propaganda eleitoral para o candidato da democracia.
Esse evento simbólico revela que (1) nosso tribunal eleitoral desconhece que o movimento antifascista internacional é apartidário ou/e (2) o tribunal reconhece que o outro candidato representa um partido fascista, que não poderia, assim, estar participando do pleito constitucionalmente, mas foi autorizado pelas nossas autoridades.
O diretor da faculdade foi preso pela polícia federal, numa clara amostragem de como agirão daqui em frente se o projeto autoritário vencer nas urnas. Milicianos de apoio ao candidato protofascista já ensaiam cenas explícitas de intolerância e o candidato que prega a violência nos seus discursos diz não poder conter seus apoiadores. As autoridades eleitorais proibiram o candidato democrata de fazer alusão à tortura, mas não impede o outro candidato fazer apologia da tortura e de torturadores. O momento é tenso e a as nossas instituições parecem querer agradar o candidato autoritário. O jogo é desigual, além do financiamento ilegal da máquina tecnológica de “fake news”, que deveria ser proibida, se a lei fosse cumprida.
Amanhã vamos votar. E escolheremos um retorno à democracia, ferida pelo golpe, ou daremos carta branca ao capitão autoritário para nos jogar nas trevas de onde saímos após muita luta há apenas trinta e três anos. Esse curto período histórico é de apenas 2% deste país que foi colonizado em 1500.
Amanhã vamos votar. E não votaremos num candidato ou num partido político. Escolheremos o futuro que queremos entre a nossa curta democracia, onde a liberdade – nosso bem maior – será respeitada, ou autorizamos pelo voto democrático – ironia da história – se desistimos da democracia.
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desenho: Gargalo
Mandou muito bem, mano! A gente vai se ver depois à luz cerveja de um dia de sol, ou numa masmorra…
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Mais uma vez um texto brilhante que retrata o momento que atravessamos
O que queremos para nosso futuro
Eu prefiro lutar numa democracia que lutar pela liberdade numa ditadura.
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Don Edmar,
Corrija se ainda há tempo: Não foi o TSE que mandou retirar as faixas contra o fascismo,
mas sim, juízes de primeira instancia dos TREs. O TSE restabeleceu a ordem “democrática”,
anulando esse ato de magistrados que não lêem seus superiores. A Carmem Lúcia, apesar de
sua tibieza, proibiu a censura no país. A Rosa Weber, atual presidenta do TSE, anunciou que
exigirá explicações dos atos fascistas desse juízes.
No mais está correto.E, vamos votar.
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sinto muito pelo vosso Povo que tem a memória muito curta!
Não vai ser bom .. é prova de grande inocência e ignorância de um Povo
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