O antigo Jornal do Brasil, o queridíssimo JB de longa história, voltou a circular ontem nas bancas. Em sua primeira página um desenho do Ziraldo trazia um Cristo Redentor cheio de amor pra dar, gritando que “Todos amam o Rio”, emoldurado pela manchete “O Rio tem jeito”. E um editorial mambembe dizia que a volta do jornal era a prova de que o Rio pode dar certo.
Foleando o jornal, encontramos uma Teresa Cruvinel no lugar do Castelinho, a volta do Painel JB, um saudosismo desde as páginas de política a dos esportes passando pelas de cultura. E os políticos de hoje (como estamos pobres de políticos hoje!) saudando a volta do que fazia falta.
O jornal veio tentando agradar os gregos e troianos que sempre habitaram o Rio e tinham um convívio pacífico. Mas o Brasil de hoje assiste a uma guerra aberta entre os seus gregos e troianos. O jornal não agradou a esquerda por ser muito direita e nem à direita, por sem muito esquerda. O jornal não tem como embrulhar nas suas páginas as duas mercadorias. Ou embrulha coxinhas ou sanduiches de mortadela.
Eu, da minha parte, queria um JB mais à esquerda do Globo como antes, o que não lhe deixa menos à direita. Mas pelo menos com as notícias que o Globo deixou de dar para fazer-se porta voz do neoliberalismo inclemente. Mas temo que a tentativa de neutralidade nessa guerra aberta possa inviabilizar o próprio jornal que voltou. Ainda é cedo, vamos esperar mais um pouco.
O Cristo Redentor sorrindo e cheio de amor pra dar – do Ziraldo – não combinou com o que estamos vivendo ultimamente. Prefiro o Cristo que ilustra essa crônica – do meu amigo 1000TON: um polegar pra cima numa mão e o outro pra baixo na outra. Porque, vamos combinar, estamos assim: o que uns concordam por um lado, os outros discordam do outro lado. Vivemos um país dividido nesse imenso território.
E hoje você é intimado a se filiar. A um bando de individualistas, que odeia seu povo – mesmo fazendo parte dele, seduzido pelo canto neoliberal do empreendorismo, aprova a intervenção militar a que as comunidades carentes foram submetidas, odeia a esquerda e tudo que ela signifique mesmo que não entenda o que é bolivariano, vomita com o gosto de sanduiche de mortadela e espera comer do caviar na mesa dos ricos. No outro batalhão temos os que se acham solidários, não acreditam no conto de sereia do neoliberalismo, acham que o Rio precisa de uma intervenção cívica e não militar, reconhece o avanço de Cuba na educação, diz que o caviar das elites nunca será provado pelos comedores de coxinhas.
Os ricos – aqueles que detêm o poder nos meios de produção e os rentistas – querem que a briga gere mais lucros e os bancos faturem mais, enquanto o povão da periferia não entende nada do que aconteceu, mesmo vendo seus direitos sociais minguarem por entre os dedos.
O JB veio para ser comprado por essa classe média de um lado e de outro dessa guerra aberta. Os ricos leem o Financial Times, os pobres vêm o que mostra a TV.
Os de classe médias da direita cantam para a felicidade dos ricos e para que a miséria continue com os pobres. Os da esquerda não conseguem explicar aos pobres que os ricos estão lhes roubando e ficando mais ricos.
E um JB de novo, como no passado, não vai alterar nada disso! E agora pode desagradar a gregos e troianos.
Muito bem encaixada a minha charge no seu belo artigo. O Cristo, assim como eu e você, estamos meio ressabiados com o ressurgimento do velho JB dos nossos tempos de jovens. A ver.
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Achei um JB bem saudosista. Querendo que, inclusive os espaços, tivessem matérias daqueles que lá estiveram há muitos anos. Não li o de hoje (2ª feira). Espero que tenha começado a ser o jornal que esperamos, um “adversário” de O Globo. Precisamos disso, de quem nos represente. Achei também que dar espaço a Temer e Moreira Franco é demais. Esperemos !!!!
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mon cher,
estais muito pessimista. para mim qualquer jornal que se oponha minimamente a O Globo, vale a pena.
basta ver que, agora, não teremos o ínclito merval pereira a ditar suas bobagens. veremos uma teresa
cruvínel, que não é um castelinho, mas impõe mais respeito. o JB de domingo foi de loas, mas trouxe
um pouco mais de alento. o que me deixa com a pulga atrás da orelha é o dono da empreitada. omar perez,
quer ser governador do rio. já declarou este seu desejo pelo face book.
vou analisá-lo melhor partir de hoje 26/2. torço para que vingue. é preciso barrar o domínio da família
marinho.
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