A Justiça é representada pela deusa grega Têmis e uma das esposas de Zeus, significando que até o deus poderia ser submetido a ela. A Justiça é definida, no sentido moral, como o sentimento da verdade, da equidade e da humanidade, colocada acima das paixões humanas. Têmis é representada de olhos vendados e com uma balança na mão. É a deusa da justiça, da lei e da ordem, protetora dos oprimidos.
Em Bruzundangas somos capazes de avacalhar até a mitologia grega. A deusa, entre nós, enxerga muito bem – já que dispensou a venda –, pende a balança para o lado dos poderosos e é muito dura com os oprimidos.
Temos a quarta maior população carcerária da face da terra, mais da metade dela de forma ilegal, pois ainda não foi julgada. Claro que a maioria aprisionada é preta, pobre e, dentre estes, o crime de porte de drogas ilegais é o mais comum. Isto por uma diferenciação injusta: o branco e rico pego com droga, geralmente é consumidor; enquanto o preto pobre é traficante. A justiça em Pindorama enxerga a cor da pele e a posse de bens como referências para a sentença. O filho de uma desembargadora pego com uma quantidade colossal de maconha foi sentenciado a “tratamento médico”, enquanto a uma mãe – presa com uma quantidade ínfima da mesma droga – foi negado o direito de amamentar o filho. O helicóptero, pertencente a um senador da república, apreendido com quase meia tonelada de cocaína foi devolvido ao dono e ninguém foi responsabilizado pelo ilícito.
Na abertura do novo ano jurídico, dias atrás, a presidente do Supremo Tribunal Federal laureada pelo presidente da república, ilegítimo, o presidente do senado e da câmara – os três suspeitos de malfeitos, diga-se de passagem – disse que é “é inadmissível e inaceitável é desacatar a Justiça, agravá-la ou agredi-la”. Lembrou que os mortais podem até discordar de uma decisão e levar a sua discordância pelos canais jurídicos ordinários, mas em tom de ameaça fez entender que a justiça pode ser mais dura com os que a atacam.
Data vênia, sem querer agravar, desacatar ou agredir o poder judiciário, ouso discordar da excelentíssima ministra presidenta. Sou um dos que acredita que houve um golpe para impedir ilegalmente uma presidente eleita. Assisti ao desacato – este sim – do senador Renan Calheiros a essa corte sem que fosse contido à altura. Abismado vi essa corte se dividir, no caso Aécio, e a senhora presidente, com o voto de Minerva, devolver aos parlamentares o destino de um senador pego em gravações comprometedoras de recebimento de propinas.
A balança da justiça, na chamada operação Lava Jato, pendeu para a condenação de um só lado partidário de nossa política. Um ex-presidente foi condenado porque – segundo o juiz – ia receber um apartamento, mas não recebeu. Uma corte de apelação aumentou a pena para o mesmo crime sem a apresentação de provas.
Um penduricalho imoral, – o auxílio moradia – que já havia sido retirado quando do realinhamento salarial de um judiciário privilegiado, retorna ilegalmente e mais imoral ainda, distribuído indistintamente aos que têm casa no local de trabalho e dado em dobro para um casal de juízes como se morassem em casas diferentes. Na injustificável defesa do ilícito, juízes pendem a balança da justiça em favor de causa própria.
É natural que muitos brasileiros estejam insatisfeitos com o comportamento de nossa justiça. E que muitos não se conformem da forma passional, sem equidade como ela vem sendo exercida, atacando assim o próprio símbolo que a representa.
O que mais impressiona é a ameaça de que ou o réu tenha um comportamento adequado de não enfrentamento, ou os julgadores poderão ser mais rigorosos. Aí já não é mais justiça. Tiraram a venda e roubam na balança. Que tal inocentar – se for o caso – o réu por falta de provas e julgá-lo por desacato?
Quanto a mim, que admiro a sabedoria que a mitologia grega exerce sobre o comportamento humano, queria ver de novo uma Justiça vendada e com uma balança equilibrada, exatamente como a representação mitológica assim a inspirou.
________________________
desenho: Gervásio
Ótimo. Compartilhei.
CurtirCurtir
FORA TEMER! FORA TÊMIS! (a deusa da justiça, na caricatura do Mestre Gervásio!)
CurtirCurtir
mon cher,
a crítica está ótima. não há justiça para a elite.
acabo de abrir o portal ig e manchete me assustou: Alexandre Morais acaba de pronunciar seu
voto confirmando a prisão em segunda instância. isso significa que lula pode ser preso a
qualquer momento.o que podemos esperar mais?
dona carmem lúcianão explicou e tampouco explicara sua reunião com representantes das
organizações tratando da prisão em segunda instância.
abs. e até amanhã, nacif.
CurtirCurtir